Prioridades e afeto

Tem frases que ressoam mal na cabeça. Na minha, claro. Já escrevi aqui sobre algumas delas. Agora é a vez de “não coloque em primeiro lugar quem te coloca em último”.

Se, ela faz sentido (priorize quem te prioriza) em princípio, desmonta quando analisamos por dez segundos.

Qualquer ser humano adulto tem várias prioridades na vida. Aluguel, comida, trabalho, família, diversão. A ordem dessas prioridades varia muito. E não dá para tomar tudo como prioridade (como bem-queria uma chefia que tive no passado). Alguma coisa irá cair em algum momento.

Tenho dois problemas com essa frase. O primeiro é de que alguém coloca outra pessoa acima de tudo. Esta é uma atitude que nunca fez sentido para mim. Não por egoísmo, claro, mas porque em determinados momentos algo sempre falará mais alto. Isto não quer dizer que a outra pessoa não tenha importância ou que ela seja “descartável”, mas apenas que precisamos pensar na vida na totalidade e o outro, aquela pessoa que queremos que faça parte da nossa vida, é parte desse todo. Não a totalidade.

E é muita presunção nossa querer ser a coisa mais importante da vida do outro.

A outra coisa que me incomoda é ter certeza que a outra pessoa te colocou em último lugar na lista de prioridades. Como saber disso? Como saber se a outra pessoa não está passando por um inferno pessoal e precisa se preocupar com a sobrevivência, com saúde, com emprego, por exemplo?

Como é que a pessoa consegue colocar o outro inteiramente na mente e saber tudo que se passa ali, na vida do outro? Não dá, né?

Porque ruídos fazem parte do discurso posso não estar me fazendo entender claramente, por isso peço um pouco de seu entendimento.

Não temos como controlar a necessidade do outro. Principalmente da necessidade do outro para conosco. Pais, filhos e amigos não têm como dizer “sou sua prioridade”. Às vezes simplesmente não dá para ser. E isto não quer dizer que você deva contar com a atenção do outro. Pelo contrário, é sinal que você precisa conhecer suas próprias prioridades. Suas necessidades fundamentais antes de exigir do outro algo que talvez este não possa te dar.

Uma frase que amo, e que se encaixa bem nesse cenário é: “quero ter força para mudar o possível, serenidade para aceitar o impossível e sabedoria para discernir um do outro”.

É isso